Profissionais do Brasil, Chile e Espanha se encontraram do último dia 16 a 18 de novembro para falar sobre Neurociência e os transtornos de aprendizagem e do desenvolvimento.
Os processos de aprendizagem dependem do bom funcionamento da capacidade do indivíduo de se organizar, gerenciar seu comportamento e emoções, ter foco, atenção e uma série de habilidades às quais damos o nome de Funções Executivas. O mau funcionamento dessas funções podem desencadear os transtornos de aprendizagem e do desenvolvimento. A fim de discutir como profissionais bem preparados podem lidar com essas questões, convidamos profissionais com mais de 30 anos de experiência na prática clínica e na sala de aula para falar sobre métodos de avaliação, diagnóstico e intervenção em transtornos como o TDA, TDAH, Dislexia, Transtorno do Espectro Autista, dentre outros.
O I Simpósio de Neurociência, Cognição e Aprendizagem, que aconteceu em Goiânia do dia 16 a 18 de novembro de 2019, contou com a presença de 120 profissionais entre médicos, neuropsicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, professores e coordenadores pedagógicos e até mesmo pais de crianças com tais transtornos. O evento ofereceu uma excelente oportunidade de aprendizado, trazendo à luz caminhos que podem e devem ser considerados ao trabalharmos com crianças e jovens nessas condições.
Da esquerda para a direita: Dra. Ângela Maria Costa, Paula Marshall, Hercílio Júnior e Dra. Monica Pistoia. Palestrantes do I Simpósio de Neurociência, Cognição e Aprendizagem
Dra. Angela Maria Costa
Preparando o caminho para a aprendizagem
Sendo a primeira atividade promovida pelo Neuronus, logo no primeiro dia, o diretor do instituto, Hercílio Júnior, abriu o evento com uma breve fala apresentando a nossa atuação e a nossa visão como instituição de ensino e pesquisa sobre o cérebro. Logo após, os palestrantes foram apresentados. A primeira sessão foi conduzida pela Dra. ngela Maria Costa. Ela é médica neurofisiologista e especialista em Fisiatria. Terminou sua residência na AACD, e atualmente é a responsável pelo departamento de Neuromodulação no Centro Estadual de Reabilitação CRER, em Goiânia, e faz parte do conselho da Associação Brasileira de Paralisia Cerebral (ABPC). Sua experiência de mais de 30 anos em neurorreabilitação e neuropsicopatologias e sua didática impecável nos proporcionaram um rico momento de aprendizado. A Dra. ngela falou sobre os aspectos neurofisiológicos da aprendizagem, explicando como o cérebro percebe, processa e registra as informações, e como isso se traduz em comportamento no processo de desenvolvimento.
O segundo dia do Simpósio
Já no segundo dia, o neuropsicólogo e diretor do Neuronus, Hercílio Júnior nos brindou com uma palestra sobre Neuroplasticidade e Aprendizagem. Em sua palestra, ele falou sobre como o cérebro é moldável e se desenvolve formando novas conexões em resposta às nossas necessidades de mudança. "Este processo dinâmico nos permite aprender e nos adaptar a diferentes experiências", explicou. O neuropsicólogo também descreveu os diferentes sistemas de neurodesenvolvimento que formam o que conhecemos por cognição, e, a partir destes conceitos falou sobre a importância de se enxergar os pacientes para além dos diagnósticos e possibilidades de intervenção. "Nossas condutas, intervenções e práticas devem ser orientadas no conhecimento do desenvolvimento cerebral, no respeito ao seu tempo de maturação e nas experiências às quais cada sujeito está submetido", continuou. A partir daí, ele concluiu falando sobre o papel da afetividade na aprendizagem, como fator que influencia na neuroplasticidade e na capacidade da criança de reter conhecimento.
Logo após a palestra do diretor do Neuronus, a Dra. Monica Pistoia, diretora do Centro de Neurociências Cognitivas, CoNoCe, localizado em Valência, na Espanha, apresentou uma discussão sobre os Transtornos de Aprendizagem e o marco das Neurociências. Ela começou sua fala com um simples questionamento: "E quando uma criança não aprende como as outras?". Para abordar a questão, ela enfatizou a necessidade de lidar com os primeiros períodos de desenvolvimento infantil, nos quais os primeiros sinais de futuros distúrbios de aprendizagem podem aparecer, segundo apontam estudos neurocognitivos realizados em seu centro. Segundo ela, há períodos de maior flexibilidade cognitiva no desenvolvimento da criança que podem ser considerados como uma janela de oportunidade para tratar esses transtornos precocemente.
Já na parte da tarde, Pistoia continuou com uma apresentação de uma série de casos, desde a avaliação e diagnóstico de transtornos de aprendizagem, até o tratamento com técnicas de Neuromodulação por Neurofeedback combinadas com treinamento cognitivo, e a mensuração de resultados por meio da neurometria por QEEG. Após a apresentação dos casos, foi feita uma rodada de perguntas e respostas sobre o uso das técnicas e os resultados alcançados com a participação da plateia.
Video com os highlights do I Simpósio de Neurociência, Cognição e Aprendizagem
Dra Monica Pistoia, diretora do Centro CoNoCe, na Espanha.
Após o coffee break, foi a vez da psicóloga Paula Marshall compartilhar especificamente sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), o processo de aprendizagem dentro deste quadro clínico e como o Neurofeedback pode contribuir neste contexto. A apresentação começou com um breve histórico da evolução do diagnóstico do TEA, desde 1967 quando a Classificação Internacional de Envermidades (CIE) incluía o autismo como um subgrupo da esquizofrenia, até o DSM V, quando se eliminaram todos os subgrupos do Transtorno Geral do Desenvolvimento (TGD) - autismo, Rett, Asperger, transtorno desintegrativo da infância e TGD não especificado - e começou-se a falar sobre um espectro autista como um transtorno do desenvolvimento que nem sempre é detectado precocemente, dado as baixas demandas sociais (dificuldades de gerar uma divisão entre comunicação e interação social, no critério e coerencia no tempo). Após isso, sua apresentação seguiu com as diferentes fases do neurodesenvolvimento infantil esperado desde o nascimento até a adolescência, e os critérios clínicos que devem ser considerados para avaliação do TEA, sendo eles: motricidade, percepção, percepção sensorial, memória, atenção e linguagem. Considerados esses critérios e as demais características do transtorno que muda de indivíduo para indivíduo, Marshall prosseguiu explicando sobre o Neurofeedback e a importância de treinar a autorregulação do funcionamento cerebral, melhorando a expressão desse funcionamento em comportamento. Sua palestra contou também com apresentação de casos clínicos mostrando resultados de atividades cognitivas combinadas ao Neurofeedback.
O último dia e encerramento do evento
Já no domingo, último dia do simpósio, Paula Marshall ministrou uma segunda palestra sobre Atenção e os seus ritmos. Apresentou o Conners Continuous Performance Test (CPT3) como método de avaliação da atenção, e o tratamento desses ritmos com Neurofeedback. Logo em seguida, o diretor do Neuronus, Hercílio Júnior encerrou compartilhando a última palestra correlacionando as Neurociências, a Avaliação Clínica e a Educação, levando os participantes do simpósio a uma reflexão com olhar para o futuro. Após recapitular sobre todos os conteúdos vistos durante o evento, Hercílio explicou que o propósito do simpósio não era fornecer fórmulas ou respostas prontas para questões complexas. Segundo ele, o principal objetivo do encontro foi levantar questionamentos e trazer à tona as lacunas de conhecimento que cada profissional precisa preencher para si. Ele discursou sobre a importância de um bom profissional não só compreender sinais e sintomas, mas sobretudo como é a experiência de cada indivíduo com sua condição clínica. "Perceber as diferenças de um mesmo transtorno em diferentes indivíduos envolve um bom olhar clínico e a disponibilidade do terapêuta, somado ao seu conhecimento adquirido", concluiu.
O I Simpósio de Neurociência, Cognição & Aprendizagem foi o primeiro evento promovido pelo Neuronus, em parceria com a Unimed Goiânia, FTD Educação, Editora Vozes e Livraria Espaço Cognitivo. Foi uma experiência ímpar de aprendizado e de troca de experiências com profissionais muito competentes. Além das palestras, os participantes tiveram a oportunidade de fazer networking e visitar os estandes dos nossos parceiros, comprar livros e materiais de atendimento. O sucesso do evento e a relevância dos conteúdos nos trouxeram a oportunidade de reproduzir este evento em 2019 na Europa em parceria com o Centro CoNoCe, dirigido pela Dra. Monica Pistoia. A nova edição deve acontecer em novembro de 2019 em Valência, na Espanha.